Arquitetura vernácula/popular na Amazônia
Dados do Verbete
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Data da última atualização do verbete:
Gente
Povos e comunidades tradicionais
Diana Soares Costa
12 de dezembro de 2023
Detalhamento
Nome do povo ou comunidade
Comunidade ribeirinha do Cristo Rei
Outros nomes do povo ou comunidade
Igarapé do Cristo Rei; Paraná do Cristo Rei; Comunidade do Lago do Rei
Município(s)
Careiro da Várzea/AM
Se não for a cidade sede do município, indique aqui o distrito ou subdistrito ou se é área rural
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Localidade (se aplicável):
O município do Careiro da Várzea situa-se à margem direita da confluência dos rios Solimões e Negro, e a comunidade está localizada no paraná do Cristo Rei que pertence ao grande Lago do Rei que desemborca no rio Amazonas.
Apresentação sucinta – Quem são
A população tradicional ribeirinha da comunidade do Cristo Rei, mantem as tradições e ainda é composta em sua maioria por pescadores artesanais. A comunidade ocupa ambas as margens do paraná do Cristo Rei, sendo que a maioria das edificações estão localizadas do lado direito do paraná, onde constam aproximadamente 50 edificações e uma minoria do lado esquerdo, com aproximadamente 20 edificações. Os modos de vida e os seus valores estão ligados ao sentimento de pertencer à floresta Amazônica que parte da essência produtora das culturas construtivas em um meio ambiente cujo contexto é de adaptação à realidade sistêmica da floresta e dos rios.
Arquitetura – Descrição da arquitetura vernácula
O tipo palafita configura a tradicional forma de morar dos ribeirinhos e podem ser encontrados exemplares em toda a Amazônia. São tradicionalmente construídas com toda a sua estrutura de madeira, cuja base de pilotis oscilam em alturas entre 2,10m e 4,65m. Na comunidade, algumas inundam e outras não, dependendo da topografia e da sua localização nas margens do paraná. É comum essas edificações possuírem banheiros externos. A tipologia flutuante é tradicionalmente construída de estrutura e sua base flutuante de madeira, sendo comum a utilização da madeira açacu (Hura crepitans L.) para flutuação.
A comunidade possui aspectos singulares que contemplam tantos as palafitas como os flutuantes que são os frontões, com detalhes decorativos diferenciando-as, bem como, o uso de guarda-corpos criativos, que personalizam cada edificação e as cores fortes nas partes internas e externas das casas também merecem destaque.
Aspectos históricos, sociais, econômicos, culturais e geográficos relacionados à arquitetura vernácula
A ocupação da Amazônia é formada por vários grupos étnicos, que historicamente foram constituídos a partir dos processos de colonização/invasão e são fruto da miscigenação das raças, cujos resultados dos intercâmbios históricos denomina-se de “caboclo Amazônico” (LIRA; CHAVES, 2016). Historicamente já havia relatos sobre a pesca no Lago do Rei quando Verissimo (1895) já o descrevia como local de estoque de peixes e quelônios dos indígenas de etnia mura, que habitavam a região do Careiro, cujo lago, no século XVIII foi apropriado como Pesqueiro Real, pelo rei de Portugal, obrigando os indígenas a pescar para sustentar os militares, os religiosos e os funcionários da coroa, sediadas nos forte e vilas do Amazonas. A presença ancestral dessa população tradicional continua sobrevivendo com a prática da pesca artesanal, bem como resistindo as especificidades ambientais que devem prever soluções para sua adaptabilidade aos ciclos da água do rio Amazonas (enchente, cheia, vazante e seca), com a presença marcante da arquitetura tipo flutuante e tipo palafita e de toda a infraestrutura da comunidade voltada para lidar com esses fenômenos ambientais.
Organização social
A base da economia ribeirinha da comunidade é a pesca e a territorialidade é estabelecida a partir do rio Amazonas, pois é o elemento mais importante e responsável pela agregação territorial, visto que as famílias passam a maior parte do seu tempo em atividades fluviais sendo possível reconhecer a forte ligação da população com o território em que vivem.
Saberes tradicionais e celebrações
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Inserção das construções vernáculas na paisagem
A arquitetura vernácula/popular dialoga com a paisagem Amazônica, os aspectos culturais e os modos de vida dos ribeirinhos e ribeirinhas, que constroem suas casas em áreas de várzea às margens de igarapés, paranás, lagos e rios.
Existe algum tipo de acautelamento, como patrimônio cultural material, imaterial ou natural relacionados a este verbete?
Essa arquitetura vernácula/popular é um patrimônio amazônico cujos sistemas construtivos tradicionais, embora já estudados, possuem menor visibilidade, não são reconhecidos por nenhuma esfera governamental e vêm assumindo importante papel transformador e de autoafirmação no contexto das comunidades tradicionais da Amazônia. Deste modo, o reconhecimento e o registro dessas edificações fazem-se necessário pois essa população possui a inesgotável capacidade de criarem e recriarem suas tradições na perspectiva de um projeto histórico de resistência cultural.
Referências
LIRA, T. M.; CHAVES, RODRIGUES, M. P. S. Comunidades ribeirinhas na Amazônia: organização sociocultural e política. Interações, Campo Grande, MS, v. 17, n. 1, p. 66-76, 2016.
VERÍSSIMO, J. A pesca na Amazônia. Rio de Janeiro, Livraria Alves, 1895.